Crânio e mandíbulas indicam que
três ancestrais viveram no Quênia. Ossos têm de 1,7 a 1,9 milhão de anos e
foram achados em 1972.
Três fósseis encontrados no
Quênia, no leste da África, fornecem evidências de uma nova espécie de
hominídeo do gênero Homo, grupo ancestral do homem moderno.
Pela idade dos ossos, os
indivíduos viveram na região entre 1,7 e, 1,9 milhão de anos atrás, início do
período geológico chamado Pleistoceno, da era Cenozoica.
Os resultados do estudo estão
descritos na edição desta semana da revista científica “Nature”, e abrem novas
possibilidades sobre a evolução humana após a cisão dos primatas.
Crânio foi combinado com a
mandíbula KNM-ER 60000, de hominídeos diferentes. A mandíbula foi ‘encaixada’
em reconstrução fotográfica e o crânio está baseado numa tomografia (Foto; Fred
Spoor,Nature).
Foram descobertos um crânio
quase completo e duas mandíbulas, de três indivíduos diferentes. Os ossos
confirmam que houve pelo menos três espécies diferentes
de Homocontemporâneas no norte do Quênia: o Homo erectus, o Homo habilis e
essa terceira que ainda não foi batizada, mas pode se chamar Homo
rudolfensis, em homenagem ao antigo lago
Rudolf (hoje lago Turkana), onde os fósseis foram encontrados. Os cientistas
aguardam uma análise mais detalhada para assegurar a semelhança com o Homo
habilis.
Os achados foram feitos em
1972, durante uma escavação na jazida de Koobi Fora, mas a avaliação só ficou
pronta agora. O crânio foi nomeado de KNM-ER 1470 e as mandíbulas são KNM-ER
60000 e KNM-ER 62000. A comparação do crânio com o de outras espécies foi
difícil, porque faltavam dentes e a mandíbula correspondente.
Dentes de uma das mandíbulas
encontradas aparecem, à esquerda, incrustados na rocha e, à direita, após a
remoção da terra, mostrando o céu da boca de um ancestral do homem moderno
(Foto; Fred Spoor,Nature)
Por essa razão, essa cabeça se
tornou um enigma para os paleontólogos e abriu um debate sobre se, no começo da
evolução humana, houve uma ou duas espécies de Homo além do já
conhecido Homo erectus,
antepassado do neandertal e do Homo sapiens.
Os cientistas envolvidos no
projeto são Meave Leakey, do Insituto Turkana Basin, do Quênia; Fred Spoor, do
Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, da Alemanha; e colaboradores.
Eles destacam que esse hominídeo se distingue dos demais por seu formato de
rosto único, maior e mais alongado, e pela adaptação mastigatória, com caninos
mais largos, esmalte dos dentes mais espessos e um céu da boca em forma de U –
enquanto nos demais hominídeos, era em V.
Mandíbula KNM-ER 60000 é
vista antes de restauração (Foto; Mike Hettwer,National Geographic,Nature)
Segundo os autores, o rosto e
alguns dentes pertenciam a um menino com cerca de 8 anos. Uma das mandíbulas,
encontrada quase inteira, com vários dentes e raízes – a mais completa já vista
de um hominídeo até agora –, era de um indivíduo adulto. Já o fragmento da
outra tinha alguns dentes incisivos pequenos, o que indica se tratar de uma
pessoa mais jovem.
Os pesquisadores afirmam que,
embora tanto o Homo habilis como
essa nova espécie terminaram extintos, ao contrário do Homo
erectus, “parece evidente que a evolução humana não
seguiu uma linha unidirecional”.
Paleontólogos Meave Leakey e
Fred Spoor, autores do estudo, aparecem coletando fósseis no Quênia, perto do
local onde foi encontrada a mandíbula KNM-ER 62000 (Foto; Mike Hettwer,National
Geographic,Nature)
Resenha especial - por Victor Rossetti
O caso rudolfensis é antigo na paleontologia, como dito na
reportagem. Até 2003 sabia-se que a cerca de 2 milhões de anos atrás havia
somente duas espécies de hominídeos na África. Sabemos agora que eram mais, talvez
quatro ou cinco.
A cerca de 2 milhões de anos atrás os Homo habilis habitavam a savana africana, os
primeiros ancestrais do gênero Homo surgiram nas zonas tropicais e
sub-tropicais da África durante o resfriamento do clima ocorrido no Plioceno
Superior entre 2,5 e 2 milhões de anos atrás.
O gêneros Homo surge oficialmente com o Homo habilis que posteriormente deu origem aoHomo erectus/ergaster. O Homo rudolfensis inicialmente foi classificado como uma
espécie distinta, então notou-se que apesar das diferenças anatômicas ainda sim
se encaixavam na espécie H.
habilis e
portanto o termo de Rudolf deixou de ser usado formalmente, mesmo porque sua
análise completa não foi concluída, sendo estendida até o presente momento.
Acredita-se que o rudolfensis tinha características que o distinguiam dos H. habilis o suficiente para compor uma nova
espécie. Acredita-se nisso porque não há uma referencia real sobre a capacidade
de reprodutividade entre eles. Portanto, atualmente o Homo rudolfensis segue classificado, ainda que não
definitivamente, como uma espécie a nova que emergiu dos Homo habilis mais antigos. Sendo assim, o H. habilis que surgiu a cerca de 2,5 milhões de
anos da origem aos Rudolfensis a acerca de 2 milhões de anos e ao Homo ergaster/erectus entre
2 e 1,5 milhões de anos.
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Australopithecus se relacionando com o gênero Homo. |
O Homo ergaster segue o mesmo dilema do H. habilis eH.
rudolfensis ou do H.
sapiens e
neanderthal. Ergaster se refere ao grupo que originou o H. erectus, mas ele por vezes pode ser classificado
como um H. erectus mais primitivo e que viveu muito pouco
no período geológico. O ergaster viveu somente 500 mil anos e representa a
saída da África e conquista da Europa e Ásia, onde deu origem ao conhecido Homo erectus, conhecido como Homem de Pequim na China
e posteriormente todos os seus descendentes. Sendo assim, ergaster pode
representar somente uma versão ancestral de Homo
erectus que
emergiu da África a partir do Homo
habilis.
Vale também destacar a última frase da reportagem, dita pelo
pesquisador responsável, a ideia de que “evolução
humana não seguiu uma linha unidirecional”
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