![]() |
Biston betularia typica e carbonária
|
por Victor Rossetti
Existem pessoas que não aceitam a veracidade da seleção natural. Por
mais simples, lógico e óbvio que seja a sobrevivência dos aptos ainda há
discursos céticos soltos pela mídia sensacionalista e especialmente na
internet.
O fato é que mesmo os criacionistas não duvidam especificamente que a
seleção natural seja uma falácia. Os criacionistas são céticos no que diz
respeito á seleção natural ser um mecanismo gerador de novas espécies. O que
alegam é que a seleção natural de fato ocorre, mas somente pode trabalhar no
nível de micromutações, ou seja, variações que ocorrem somente ao nível da
espécie e nunca extrapola-la a tal ponto de emergir uma nova. Portanto, sobre o
ponto de vista microevolutivo a seleção natural é aceita até mesmo pelos
céticos da biologia evolutiva. Entretanto, a seleção natural tem sim o poder de
criar novas espécies. Não entrarei nos detalhes dessa discussão pelo fato de
isso já ter sido longamente discutido e evidenciados com exemplos naturais no
texto AS MARCAS DA ESPECIAÇÃO SE SOBREPONDO AO CONCEITO SUBJETIVO DE
MACRO-EVOLUÇAO E ESPÉCIE.
O que apresento inicialmente é o ceticismo em relação á seleção
natural pelo fato do conceito ter sido dado por Darwin, o maior representante
da biologia evolutiva e erroneamente confundido com ateu. O fato de Darwin ter
sido contemplado com o maior representante da evolução fez com que vertentes
religiosas “satanizassem” todos seus conceitos, sua vida e suas ideias.
Ofereço aqui dois exemplos clássicos de seleção natural promovendo
variações microevolutivas que evidenciam hoje que a concepção de seleção
natural vai muito além daquela vista sob o nível da espécie e muito além do que
Darwin ofereceu. De fato, o livro A origem das espécies é um livro denso (e por vezes chato) e
bem recheado de exemplos de seleção natural coletados no mundo todo (leia DARWIN ANTES DO DARWINISMO e DARWINISMO DEPOIS DE DARWIN). O que Darwin ofereceu foi
uma lei natural, um padrão, a luta pela vida que foi visualizada em todas as
espécies que teve contato ao redor do mundo.
Com o advento da genética a evolução passou a ser melhor
compreendida, embora atualmente passe por um período de turbulência conceitual
visando a concepção de um novo paradigma reformulado, renovado e melhor.
O que ofereço inicialmente é um vídeo de um representante religioso
cético e por vezes inconsolado com o fato da seleção natural ser um mecanismo evolutivo.
É fundamental que os ouvintes deste vídeo, os evolucionistas e os leigos que se
interessam pelo assunto vejam as duas propostas antes de se posicionar.
O que apresento aqui são dois exemplos de seleção natural. A primeira
refere-se especificamente a grande discussão que teve o caso da mariposa Biston betularia, e
o segundo trata-se de um mecanismo molecular que promoveu adaptações
metabólicas.
Foi levantado um questionamento interessante a respeito da veracidade
do melanismo industrial promovido por essa espécie de mariposa, especialmente
no que diz respeito a metodologia adotada pelo autor do primeiro estudo (saiba
mais aqui)
Em um artigo publicado na Biology Letters quatro
pesquisadores publicaram os resultados de uma pesquisa feita por Michael
Majerus que realizou de maneira rigorosa os experimentos de Bernard Kettlewell
sobre a mariposa Biston betularia.
De acordo com a teoria, as mariposas mais claras morreriam já que
eram visíveis a predadores e as mariposas mais escuras conseguiriam se
camuflar. Com o tempo a tendência era encontrar mais mariposas pretas nas
cidades e uma proporção menor de mariposas claras, e em florestas limpas ao
redor da cidade o contrário ocorreria.
Jerry Coyne, que é evolucionista foi um dos pesquisadores que mais
criticou a metodologia experimental de Kettlewell. Criticou justamente a
metodologia e não a hipótese que se mostra coerente e lógica. Em seu livro Why evolution is true? Coyne discute sobre os novos
resultados obtidos em 6 anos de pesquisa de Majerus que não só compilou dados
de experimentos, mas também observou as mariposas em repouso sobre os troncos
das árvores durante o dia dando por encerrado a questão do melanismo industrial
como um fato constatado cientificamente e não uma mera hipótese construída a
partir de um experimento meia boca como vinha sendo alegado por criacionistas.
Majerus testemunhou as mariposas sendo predadas por pássaros e viu a seleção
natural em ação através do melanismo industrial em seus dados matemáticos.
Mariposas Biston betularia apresentam
um polimorfismo interessante, uma versãotypica que é branca com manchas pretas e
marfim, e outra versão denominadacarbonaria que
é toda preta. Estas formas diferem por mutações em um único gene, sendo o alelo
da carbonaria dominante (AA ou Aa) sobre a
forma typica (aa).
No século XIX a Inglaterra iniciou o processo de industrialização e a
formacarbonaria da
mariposa aumentou sua frequência na população. De fato, a frequência da forma typica quase desapareceu em algumas
localidades. Em florestas não poluídas as mariposas typicaque
repousavam sobre troncos de cor clara e se tornavam camufladas para aves
predadores.
Com a deposição de fuligem e chuva ácida as mariposas typica anteriormente
camufladas passaram a ser visíveis enquanto as carbonaria tornaram-se
mais camufladas. Assim, a predação por aves com base na camuflagem foi sugerida
para explicar por que o alelo preto atingiu altas frequências em áreas
industriais. E isso é claramente a seleção natural em ação já que é definida
como alteração genética com base em reprodução diferencial por sobrevivência de
alelos.
Após a década de 50 as leis de controle da poluição estabeleceram
limites a atividades industriais potencialmente poluidoras a forma typica começou novamente a aumentar sua
frequência. Em muitos lugares esta forma é a predominante, chegando a 95% das
capturas. Experimentos feitos usando mariposas e aves presas em uma gaiola
mostraram os mesmos resultados. De fato, houve também reduções na frequência de
formas melânica da subespécieBiston betularia cognataria no nordeste dos Estados Unidos com o
declínio da poluição na segunda metade do século 20.
O que Marjerus fez antes de morrer foi redefinir a metodologia do
experimento de Kettlewell. O primeiro experimento feito por Kettlewell
consistia em fazer a soltura e posteriormente recaptura das mariposas. Ele
liberava mariposas escuras e claras em florestas tanto poluídas como não
poluídas na Inglaterra. Ele sempre recapturava mais das typica em
florestas não poluídas ecarbonaria em
florestas poluídas. Isto sugeria que as aves estavam comendo as mariposas com
as cores mais visíveis em ambos os tipos de florestas. O viés a respeito do
experimento de Kettlewell esta no fato de terem sido mal planejado já que não
fornecia informações sobre onde ás mariposas realmente descansavam durante o
dia, que é o momento onde elas estão sujeitas a predação. Sem isso a contagem
poderia ser feita usando outros indivíduos e a amostragem seria viciada.
Quando Coyne expos essas falhas do experimento os geneticistas e
pesquisadores criticaram-no em peso, os criacionistas adoraram a novidade e uma
jornalista científica chegou a alegar que Kettlewell havia fraudado resultados
para apoiar o darwinismo.
Entre 2001 e 2007 Majerus coletou tanto mariposas Biston betularia carbonaria quanto typica, colocou
cada mariposa em uma luva de malha em uma árvore, permitindo a elas repousassem
em seus locais preferidos durante a noite. Posteriormente removeu as malhas
antes do amanhecer. Como essas mariposas não voam durante o dia, qualquer
uma que desaparecesse por quatro horas depois do amanhecer teria sido predada
por aves. Ele também ficou de observação vendo quem tinha sido comida. O
resultado mostrou que 26% das mariposas foram vistas sendo predadas por aves.
Marjerus subia nas árvores para constatar se as não capturadas estavam lá e
realmente estavam.
Nesse experimento, Majerus soltou os dois tipos de mariposas nas
frequências em que ocorriam naturalmente em apenas florestas não poluídas, pois
florestas poluídas não são mais encontradas na Inglaterra. Nas condições
previstas por Majerus era de esperar que mais mariposas escuras seriam comidas
do que mariposas claras.
Juntamente com a observação ele constatou que uma fração significativa
das mariposas encontradas em sua posição natural de descanso durante o dia
(35%) estavam repousando nos troncos das árvores como a hipótese de predação
exigia, afinal, as aves tem de ver as mariposas para que possam se alimentar.
Isso mostra como em poucos anos é possível que determinados alelos
que conferem sobrevivência aumentem sua frequência. Somente aqueles com alguma
vantagem sobrevivem, por exemplo, alelos que conferem um determinado padrão de
coloração relativo ao ambiente em que o animal vive.
Na verdade isso fica bastante evidente especialmente no grupo dos
artrópodes, especificamente no caso dos lepidópteros em relação ao padrão de
coloração de aviso em membros do grupoHeliconius e outras subfamílias que eventualmente
tem uma padrão de coloração próximo.
Os insetos desenvolveram vários tipos de relações ecológicas com
plantas, especialmente as borboletas com as angiospermas a cerca de 130 milhões
de anos. Esse complexo co-evolutivo estabeleceu relações mútuas entre insetos
polinizadores e plantas a serem polinizadas e eventualmente um combate entre
predadores e presas. Plantas muito predadas acabaram desenvolvendo estratégias
evolutivas a partir de substâncias químicas que co-evolutivamente forçaram
muitas ordens de insetos a se ajustar as novas exigências ecológicas, ou seja,
contra-estratégias de sobrevivência.
Um estudo publicado na revistaProceedings of the National
Academy of Sciences mostrou umacomparação
envolvendo 18 espécies de insetos de 15 distintos gêneros e a quatro
ordens diferentes; borboletas e mariposas, moscas, percevejos e besouros. Esses
insetos alimentam-se de plantas que produzem um grupo de compostos tóxicos
conhecidos como cardenolídeos.
Esse composto atua sobre a membrana células, especificamente na bomba
de sódio no mecanismo Na+/K+ ATPase e acaba promovendo a interrupção do
transporte desses dois íon fundamentais para a manutenção do potenciais de
repouso celular. Entretanto, a borboleta monarca Danaus plexippus tem uma mutação no códon que codifica o
aminoácido 122 da subunidade α da enzima ATPase. Essa troca diminui a
toxicidade dos cardenolídeos sobre a bomba proteica, conferindo resistência.
Ao examinarem a sequência referente a subunidade α do gene da ATPase
nas 18 espécies de insetos os pesquisadores puderam constatar que a mesma
mutação estava presente nas quatro ordens. Em 11 dessas espécies, os cientistas
identificaram uma segunda mutação no aminoácido 111 da subunidade α que também
conferia resistência às toxinas.
Pensando nisto, os cientistas inseriram as mesmas mutações em células
de cultura cujos genes da ATPase não as possuíam originalmente e ao acrescentar
cardenolideos às culturas puderam observar que
quando introduzidas as duas mutações ao mesmo tempo dobravam a resistência
individualmente e a aumentavam em cerca de 12 vezes em relação a sequência
selvagem que não possuía quaisquer mutações.
Esse gene é altamente conservado entre os insetos e existindo em
formas muito similares em grupos de animais como os mamíferos, tendo uma papel
fundamental na sobrevivência. Sua forma particular entre os animais deve ter se
estabelecido no ancestral comum desses insetos a cerca de 600 milhões de
anos. Com a origem das quatro ordens de insetos estudadas há cerca de 300
milhões de anos várias espécies evoluíram repetidamente e de maneira
independente adquiriram as mesmas mutações em um processo denominado
convergência evolutiva.
Uma explicação para este padrão repetido de evolução é sugerida pela
própria estabilidade evolutiva da ATPase na função fisiológica. Isso indica que
tal sequência está sob forte controle da seleção purificadora já que a maioria
das mutações neste gene poderiam causar riscos diretos a sobrevivência de seus
carreadores, ou seja, qualquer variação eliminaria os mutantes. Isso explica
como a convergência pode ter sido estabelecida nesses grupos de insetos.
* RODRIGO VERAS. O TRIUNFO DO MELANISMO
INDUSTRIAL.
Referências.
1 Comente o que achou...:
Ateus se apoiam em Darwin porque necessitam de uma muleta que mantenha firme sua rebeldia contra Deus. Somente uma pessoa muito inocente ou de má fé acreditaria que o acaso pode se auto organizar,tornando um monte de partículas num ser vivo, capaz de reproduzir-se e questionar de onde veio. O problema é filosófico: o nada produz o nada. Ora, se temos algo no mundo, não temos o nada, temos alguma coisa. Se o nada produz o nada, algo deve ter produzido algo, sabendo exatamente como este algo deveria funcionar e tendo força e inteligência suficiente para torná-lo um ser. Vocês podem questionar as implicações morais de um Deus, agora, negar a existência de uma inteligência que tenha sequenciado milhões de linhas do DNA é achar que uma pedra pode virar silício, produzir energia elétrica ao acaso, virar um notebook e auto programar-se e, pior, possuir um sentimento de rebeldia por se achar imperfeito e injustiçado. Tenho dó de quem não pensa logicamente.
Postar um comentário