A evolução desafia o entendimento de como a natureza funciona, o que da brecha para que os criacionistas critiquem as hipóteses e teorias desenvolvidas pela ciência. Um dos argumentos usados nesta guerra de criação versus é evolução é explicar como a natureza criou indivíduos de dimensões tão absurdas como as baleias que contem trilhões e trilhões de células, modelada em apenas 60 milhões de anos.De fato, é difícil acreditar que a vida que surgiu a partir de uma única célula tenha chegado a um incrível nível de complexidade de tal forma a desenvolver organismos multicelulares como a baleia.
A vida surgiu no mar e ganhou a terra com os anfíbios. Os répteis que descendem de anfíbios são terrestres em sua maioria, as aves como os pingüins trocaram o céu pelo mar. Há também os ursos polares que possuem os membros anteriores maiores que os posteriores utilizando-os como remos, as baleias, as focas e ariranhas são todos animais que trocaram o ambiente terrestre pelo aquático.
Nunca paramos para reparar, mas dentro de cada grupo principal de animais que vivem no globo, sejam os répteis as aves ou os mamíferos, todos têm pelo menos um algum representante que vive mais em ambiente aquático do que terrestre.A diferença esta nos processos cumulativos. Durante os milhares de anos, pequenas mudanças no genoma dos animais promovem pequenas modificações nos indivíduos e ao longo de varias gerações criam novos organismos, punindo com a morte aqueles inaptos a determinadas exigências ambientais. A seleção vai promovendo pequenas alterações e por vezes geraram grandes controvérsias relativamente à sua possibilidade justamente por trabalhar em uma escala de tempo geológica. Aqui vemos uma proposta bem interessante apresentada pelo professor zoólogo Richard Dawkins em O gene egoísta. Devemos passar a ver a evolução de outra perspectiva. A evolução trabalhando nos indivíduos, mas mudanças ocorrem em um nível mais profundo, o molecular. Stephen Jay gould, o paleontólogo comunista dizia: os genes modificam, os indivíduos são selecionados e as espécies evoluem.
Vejamos alguns exemplos que desafiam a ciência: desenvolvimento de membros articulados a partir de barbatanas musculadas nos tetrápodes do Devoniano; e mais recentemente, o desenvolvimento de uma locomoção bípede numa linhagem de primatas quadrúpedes no final do Mioceno.Muitas vezes os criacionistas afirmam que o surgimento de organismos complexos seria como se um furacão passasse dentro de um ferro velho e aleatoriamente, como que por acaso o resultado fosse a criação espontânea, de Boing 747.
Obviamente que aleatoriamente seria impossível isso acontecer, mas se durante milhões e milhões de anos as peças simples que fazem parte do ferro-velho fossem submetidas a seleção natural poderiam dar origem a objetos tão complexos quanto um Boing 747. A diferença esta entre a aleatoriedade e os processos cumulativos. Aleatoriedades na biologia ocorrem nas mutações, dentro do genoma, isso não significa que aleatoriamente um artiodáctilo se transformará em uma baleia ou que um casal de chimpanzés vai dar a luz a um loirinho de olhos azuis.
Basta olhar para uma baleia e ver o resultado de milhões e milhões de anos de evolução. Não estou dizendo que a evolução busca um nível de complexidade maior, mesmo porque parece que quanto maior o nível de complexidade de um organismo mais susceptível a falhas ele é, maior o gasto energético para o deslocamento, maior a demanda energética e etc e tal, e isso com certeza é levado em consideração quando vemos a seleção natural atuando.
Vejamos o que a ciência diz a respeito da evolução dos cetáceos, como através de processos cumulativos da seleção natural os organismos evoluem e o que a ciência já tem em mãos sobre a história desses peculiares animais.
Parece ser consensual que o grupo de mamíferos ancestral que deu origem as baleias de hoje compreende os Arctiodactyla, ungulados como o camelo, vaca, hipopótamo. Difícil é encontrar a localização exata dos cetáceos em relação aos Arctiodactyla neste ramo da árvore da vida. A idéia de que os cetáceos são descendentes de artiodactilos baseia-se na idéia de que seus ancestrais dotados de membros anteriores e posteriores tinham uma estrutura denominada Astrálo, estrutura chave utilizada para descrever se um determinado organismo é um artiodactilo ou não. A presença deste osso no tornozelo garante o título de artiodactilo a um organismo.
Todos os membros já extintos da ordem Cetácea são colocados na sub-ordem Archaeoceti representando a transição de ecossistema terrestres para aquático com indivíduos estritamente terrestres, anfíbios e estritamente aquáticos.
Os ancestrais terrestres dos cetáceos pertenciam a família dos Pakicetedae cujos membros são considerados terrestres. Talvez a descoberta mais significativa para a compreensão da evolução dos cetáceos tenha sido a dos Pakicetidae. O crânio desta família foi confundido com o de um Creodonte, um grupo de mamíferos carnívoros extinto. É provável que este animal fosse semelhante em forma aos atuais canídeos ou semelhante a um rato gigante.
Embora fossem terrestres, provavelmente teriam um estilo de vida ligado a ambientes dulçaquícolas, alimentando-se de peixe.
Os ancestrais anfíbios são das famílias Ambulocetidae, Remingtonocetidae e Protocetidae, que incluem formas que se tornam cada vez mais marinhas. Os Remingtonocetidae e os Protocetidae são os menos conhecidos dos Archaeoceti, mas acredita-se que teriam um estilo de vida semelhante ao das focas atuais. Os Ambulocetidae eram ainda algo dependentes de ambientes dulçaquícolas, no entanto os seus fósseis são frequentemente encontrados em zonas associadas a ambientes costeiros marinho.As famílias Dorudontidae e Basilosauridae, cujos membros já são considerados totalmente marinhos. Os Dorudontidae e os Basilosauridae são os Archaeoceti mais semelhantes aos cetáceos modernos.Tinham hábitos totalmente aquáticos e alimentavam-se essencialmente de peixes.A modificação mais marcante é a migração das fossas nasais desde a extremidade do focinho até ao topo da cabeça. Nos Pakicetidae e nos Ambulocetidae as fossas nasais situam-se na extremidade do focinho, enquanto que nos Protocetidae encontram-se já acima dos dentes caninos. Nos Dorudontidae, as fossas nasais encontram-se quase acima dos molares, quase a meio caminho entre a posição terrestre e a dos cetáceos atuais.
As baseias hoje se dividem em dois grupos: Misticetos, ou baleias de barbatanas, que perderam os dentes e ganharam uma nova estrutura que permite peneira o plâncton da água, elas emitem sons de baixa freqüência e que permite uma comunicação a longa distância, e os Odontocetos, baleias com dentes capazes de receber e emitir sons de alta freqüência para localizar a presa, ou ecolocaliza A orca que na realidade é um golfinho, é conhecida como uma baleia assassina porque realizam o canibalismo, quando em stress alimentar é comum encontra ossos de outros cetáceos no estomago desses animais. As orcas Orcinus pode ter tido um ancestral anagênico, ou seja, é fruto de um processo evolutivo sem qualquer ramificação de linhagem evolutiva. A orca parece ser uma das mais antigas espécies de golfinhos com cerca de 5 milhões de anos. Estudos moleculares com a baleia jubarte indicam que as primeiras baleias que filtravam a água do mar como forma de obter alimento apareceram a 35 milhões de anos atrás. Uma nova especiação que pode ter ocorrido no Mioceno, por volta de quinze milhões de anos, pode ter dado origem a linhagens da baleia-azul e o grupo Balaenopteridae se separaram há mais de cinco milhões de anos. Nesse momento a jubarte já havia se diferenciado.
As lacunas no registro fóssil
O que isso tem a ver com o criacionismo? Tudo, observe que se tivéssemos as baleias modernas e o fóssil dos Pakicetos a justificativa criacionista é que não existem fósseis de transição, mas a medida que encontramos os fósseis que fazem essa transição, eles argumentam que para cada fóssil que surge aumenta a quantidade de lacunas que preenchem a evolução dos cetáceos. De forma que se encontrássemos 5 “elos perdidos” haveriam mais lacunas que ligassem um fóssil ao outro.Obviamente que para eles faz mais sentido existir um organismo unicelular e pela graça de Deus criou-se a baleia pelas mãos do divino, suportando a idéia de que um organismo na base da arvore da vida pula imediatamente para o topo da árvore onde estão as baleias.É mais fácil acreditar que a vida partiu de uma única celular e foi se modificando ao longo de milhares de anos, assim como uma pessoas sobre passo a passo uma montanha ou que a vida partiu do básico e saltou ao topo da montanha?
Esse foi o argumento básico de Charles Darwin (Shrewsbury, 12 de Fevereiro de 1809 — Downe, Kent, 19 de Abril de 1882) quando escreveu Natura non facit saltum (A natureza não da saltos).De fato o argumento de salticista dos criacionistas é suportado pela idéia de design inteligente, proposta por Willian Paley e que não vou discutir aqui, pois já me estendi demais.
Antes lanço o desafio. Adivinhe quem são ou essas pessoas da figura ?
A proposta que passo agora é demonstrar que os registros fósseis tem lacunas, mas mesmo com lacunas é possível saber que existe parentesco entre as espécies, como pudemos ver com o osso astrálo.Mesmo sem os registros fósseis poderíamos perceber parentesco entre animais, através do DNA, através de comportamento semelhante entre espécies semelhantes, anatomia, fisiologia, e comportamento sexual.A evolução passou a ser vista como um fato depois de 200 anos de darwinismo, já que neste tempo surgiu a genética a biologia molecular e uma infinidade de ferramentas que cotidianamente tem confirmado a evolução de Darwin.As fotos que postei são na verdade a mesma pessoa, e demonstra que com o passar dos anos não só mudamos como espécies mas mudamos nossa fisionomia. Embora pareça pessoas diferentes tanto a criança quanto o adolescente e o jovem militar são o mesmo ditador que conhecemos, Hitler.
Não há fotos que mostrem todos os dias da vida de Hitler e que demonstrem as transições da vida dele, de criançasa para adolescente e adulto e sua ascenção ao poder nazista. Mas isso não muda o fato de ser a mesma pessoas. Da mesma forma os registros fósseis nos fornecem esses dados. O registro fóssil é um retrato do passado. Não temos todos, mas através de caraterísticas dos organismos e do cenários das fotos podemos inferir muito sobre o relacionamento intimo que esses organismo tem.Isso destrói com qualquer tentativa criacionista de dizer que sempre haverão lacunas. De fato, sempre haverão, mas isso não é argumento irrefutável pra a evolução de Darwin.
O Colunista
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O biólogo Victor Rossetti |
Victor Rossetti é formado em ciências biológicas desde 2007, com especialização em educação ambiental e desenvolvimento sustentável (2009) pelo Centro universitário Fieo. Monografia de graduação em neurofisiologia da orientação espacial e córtex entorrinal. Estágio no departamento de etologia de Centro de educação e cultura indígena. APA Capivari Monos (SP) aracnídeos no Instituto Butantã, e educação ambiental em um parque ecológico na Osasco, como foco em lepidópteros. Trabalhou também no World Wildlife fund (WWF) como representante da ONG e educador ambiental. Atualmente trabalha no colégio Leonardo da Vinci/Anglo onde dá aula de ciências e secretário de coordenação.
"Agradecimento especial a direção de Ciência Blogada"
Visitem: www.netnature.wordpress.com
1 Comente o que achou...:
Só gostaria q vc me explicasse essa parte do texto:
"A vida surgiu no mar... "
Como ela surgiu no mar ???
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