Ecologia e evolução da explosão Cambriana

por Victor Rossetti

A história da vida começa um pouco antes de 3,5 milhões de anos, quando as primeiras formas de vida surgiram a partir de elementos bioquímicos mais simples, elementos que possivelmente não eram responsáveis pela hereditariedade, mas quando sujeito a milhões e milhões de anos de seleção natural produziu uma molécula auto-replicadora que hoje domina o mundo com suas maquinas chamadas corpos.

No trajeto da vida, nosso planeta era habitado por uma imensa pequena população de organismos impossíveis de serem visto a olho nu. Os mais antigos registros são os estromatólitos que surgiram em um período denominado proteozóico. Os paleontólogos dividem o tempo em diversas eras para facilitar a classificação dos organismos em relação ao próprio tempo.
As bactérias começavam a dominar nosso planeta e foi por volta desse mesmo tempo que surgiu a atividade fotossintética pelas cianobactérias. Os primeiros protistas heterótrofos e metazoários caracterizando o Fanerozóico e posteriormente os primeiros Eucariotos.
            No meio desse ambiente quase inóspito surge uma fauna muito peculiar, a chamada fauna de Ediacara, formada principalmente por organismos mais sofisticados em relação aos primeiros organismos vivos que habitaram a Terra. Eram organismos multicelulares, tais como anelídeos, artrópodes de corpo mole, microfósseis vegetais e algumas algas. No final do período ocorreram várias variações o clima da Terra, variações de temperatura, da química do mar e a atmosfera mudou muito.
A América do sul se separou da América do norte embora possivelmente elas interagissem entre si. A América do norte se chocou com o noroeste da África, contemplando aquilo que chamamos de Pangea.
Anomalocaris 
A fauna Ediacariana que até o presente momento apresentava-se de corpo mole, mudou drásticamente em relação ao período Cambriano a 640 milhões de anos. Neste momento da história da vida ocorre a maior de todas as mudanças na fauna, formando estruturas esqueletais de carbonato de cálcio, fosfato de cálcio ou sílica. Os padrões anatômicos que encontramos todas as formas de vida podem ser classificados em 6 ou 8 padrões, variando um pouco, mas basicamente em todo o mundo existem somente eles.
Deve-se notar que isso representa um passo muito sofisticado na história da vida na Terra, essencial para a sobrevivência dos futuros organismos e estudo da evolução. Para um organismo que deixou de ter partes moles para ter partes duras constituintes foi um salto vantajoso imenso em relação ao passado.
Deste dia em diante podemos ver uma fauna formada por animais de concha, e o surgimento de organismos como trilobitas, muito bem estudado por grandes paleontólogos como Zofia Kielan. Parentes deles como os Limulus, Euripterigios posteriormente que deram origem aos primeiros aracnídeos terrestres no Devoniano.
Os trilobitas eram animais marinhos que viviam em diferentes níveis de profundidade do oceano e representam os organismos mais promíscuos com uma radiação enorme, ou seja, distribuídos em várias regiões do globo. Os trilobitas apresentavam exoesqueleto de várias formas, e diversos hábitos de vida incluindo hábitos alimentares, predadores, filtradores comedores de detritos no fundo do oceano, o estilo de dieta deles definiam sua morfologia e tamanho.
Outros organismos compunham a fauna do Cambriano, como a Anomalocaris, terrível predador com uma morfologia sofisticada para sua época. Durante muitos anos ele foi o maior dos mares medindo por volta de 65 centímetros. Já foram encontrados até fósseis com restos de trilobitas dentro de seu corpo.
Além desses organismos os gastrópodos, esponjas primitivas, ancestrais dos equinodermos, como os pepinos-do-mar, corais vermes protoconodontes, crinóideos, monoplacóforas, poliplacoforas, crustáceos antigos, picaias e estromatólitos também compunham o nicho Ediacariano e Pré-Cambriano.  Os estromatólitos existema até hoje em alguns pontos específicos do planeta, são formados através de bactérias e algas azuis. É possível estuda-los na Austrália, pois lá existe um ecossistema idêntico a fauna ediacariana
O foco deste artigo não é só descrever o período Cambriano mas sim discutir porque antes do cambriano não temos fósseis, e porque a diversidade de formas de vida explode neste período.
A resposta leviana certamente seria dada por um criacionista dizendo que neste momento Deus decidiu povoar a Terra, e de fato em 1830 o criacionista Murchison pregava veemente esta falácia.
Para o olhar do biólogo esta resposta não é nada, porque não foi averiguada a ecologia do lugar. A vida explodiu logo no começo do Cambriano devido a um conjunto de fatores. Vejamos
Em relação as condições atmosféricas, quando a taxa de oxigênio aumentou possibilitando uma maior disposição dele na água ocorre instantaneamente a melhora nas trocas gasosas. A disposição deste sustentou o resfriamento do planeta que anteriormente era quente demais para suportar outras formas de vida.
Explosão do Cambriano logo após a última grande extinção, note que quando os nichos são preenchidos a diversidade se estabiliza.
A mudança na química dos mares de todo planeta permitiu a sedimentação de carbonato de cálcio que faz parte do esqueleto da fauna. Uma maior demanda desse carbonato foi logo aproveitada pelos animais. Aqueles que tiveram de alguma forma a capacidade de utilizar esse carbonato como uma estratégia de defesa ou de ataque, teve sua vida poupada pela seleção natural.
Desta forma ao fim do período Ediacariano onde uma terrível tragédia assolou a vida marinha atuou como gatilho para que uma nova leva de animais surgisse e preenchesse um nicho totalmente aberto deixado pelos falecidos.
Sem considerar a questão ecológica do local nenhuma resposta coerente pode ser dada. Não se responde uma questão dessas as cegas, é necessário que os criacionistas no mínimo se insiram no contexto ecológico e paleontológico que estão discutindo e discordando. Eu sei que é difícil, afinal, eles acreditam que a Terra tem 10 mil anos, com essa idade, nem a fossilização é possível.

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Naillin Ruiz disse...

o que significa a expressão 'explosão cambriana' no ponto de vista evolutivo?